sábado, 28 de agosto de 2010

Dança das abelhas: linguagem ou código?




No livro “Problemas de Lingüística Geral I”, Benveniste, lingüista francês, dedica um capítulo de sua obra para tratar da relação entre a comunicação animal e a linguagem humana. O autor traça uma clara diferença entre a “linguagem” das abelhas, estudada por Frish) e a linguagem humana.
Os estudos do zoólogo Karl Von Frisch mostram que as abelhas parecem deter algum tipo de comunicação peculiar. Essa hipótese é oriunda da observação de que quando uma abelha constata uma fonte de alimento, ela retorna à colméia realizando uma dança específica, que, por sua vez, envolve movimentos circulares tanto na vertical quanto na horizontal, em forma de oito, além de um movimento ritmado do abdome. Após a realização da dança, as abelhas espectadoras se dirigem à fonte de alimento sem a companhia daquela que lhes trouxe a mensagem.
Constatou-se que cada tipo de movimento representa aspectos distintos, como a distância, a direção e o tipo de alimento encontrado.
Diante deste fato, poderíamos atribuir uma linguagem ao sistema de comunicação das abelhas?
Segundo Benveniste, a "linguagem" das abelhas NÃO É LINGUAGEM no sentido em que:

  • não pede qualquer resposta, mas apenas um comportamento: não há interlocução, diálogo, não é reproduzível. (Ou seja: uma abelha que recebe uma mensagem não pode transmiti-la de novo e não funciona, como a linguagem humana, como substitutivo de uma experiência.);


  • refere-se sempre a um dado em particular (o alimento), sem dar margem ao leque infinito de enunciados e situações que a linguagem humana permite formular. Na linguagem humana, o símbolo não remete ao dado empírico e, dessa forma, ele é algo que interpreta o real;


  • Não pode ser decomposta;


  • É executada através de danças (não-vocal). (porém, o professor fez a seguinte ressalva: linguagem de surdo-mudo não é falada e é linguagem, deixemos esta discussão para outra postagem);
(...)
O caso da "linguagem" das abelhas é um exemplo que permite pensar os limites da linguagem dos animais em relação à linguagem humana. E outro lado imaterial, em que ocorre a comunicação de significados através da evocação de experiências ou acontecimentos.

Fontes:

FIORIN, José Luiz (org.). Introdução à lingüística: I. objetos teóricos. São Paulo: Contexto, 2002.

http://busca.unisul.br/pdf/57916_Angela.pdf


BENVENISTE, Emile. Problemas de Lingüística. Trad. Maria G. Novak, Maria L.Neri. 3 ed.
Campinas: Pontes, 1991.

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