quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

FUNCIONALISMO

Uma conversa sobre o Funcionalismo....




Os funcionalistas abandonam a idéia do sistêmico por si e per si, passando a observar a relação do sistêmico com o uso - como a linguagem, em determinadas situações de usos, pode sofrer transformações de base gramatical, ou de sentido.

O funcionalismo vai tentar perceber como que em um determinado contexto, um elemento tido originariamente como um advérbio de lugar, passa, em outros contextos, a assumir uma posição de conjunção aditiva - Exemplo: “aí”. “Domingo estávamos num jantar, aí chegou gente, aí fomos passear...”.

Diferentemente dos gerativistas - os quais não levavam em consideração a performance, pois o importante era a competência, aquilo que faz parte da gramática interna do sujeito - os funcionalistas atestam para a importância do uso (concreto/real, não hipotetizado). Trabalha-se, sobretudo, com dados orais, uma vez que estão mais suscetíveis a mudanças. Toma-se, então,como objeto de estudo, a fala. Nesse sentido, verifica-se que, com o funcionalismo, tem-se a eleição de um novo objeto de estudo, o discurso/parole saussuriana. É importante ressaltar que a concepção de discurso do funcionalismo não é a mesma concepção da Análise do Discurso.

Embora várias vertentes mobilizem o termo discurso, cada uma compreende este termo a partir de seus pressupostos. Por exemplo: “Discurso” para a Análise do Discurso francesa é “efeitos de sentido entre interlocutores”; para o funcionalismo, o discurso é a língua em funcionamento (fala).

A teoria funcionalista data do século 19, e portanto é pré-saussuriana. Com o advento do saussurianismo, essa tendência ficou num segundo plano em relação aos estudos da linguagem. Tal vertente, no período pós-Saussure, recebe uma re-atualização de seus princípios, sobretudo com os funcionalistas da escola lingüística de Praga. Nesta escola, a figura que mais se destaca é Jakobson. o qual passa a pensar a linguagem não mais como uma única função - comunicação de informações - mas em suas diversas funções, levando em consideração os fatores que intervém no processo comunicativo. Vê-se que Jakobson teve o grande mérito de levar em consideração aspectos que Saussure havia deixado de lado. Assim, a corrente funcionalista passa a conceber a linguagem em interação, construída pelos interlocutores em determinada situação. Importante ressaltar que esta concepção de interação não é a mesma do sentido bakhtiniano. É uma interação que leva em conta somente os aspectos situacionais (eu - aqui - agora) - um “eu” que fala para um “tu”, num determinado momento.

Para atender ao princípio básico comunicativo, a linguagem se adapta aos mais diferentes processos / usos. Exemplo: O “aí” num determinado contexto, vai funcionar como um advérbio. Esse mesmo elemento, num outro contexto comunicacional funciona com outro status gramatical.

Sabe-se que há diversas correntes funcionalistas, assim como há diversas vertentes de semântica, Análise do Discurso, dentre outras. Cada uma dessas tendências funcionalistas compreende o conceito de função diferentemente. Por exemplo, Martinet (aquele da dupla articulação da linguagem), afirma que o conceito de função diz respeito à eficiência comunicativa das unidades estruturais. A função pode designar as relações entre uma forma e outra.

Outra vertente compreende a função como a condição de distintividade semântica, relação direta entre uma dada forma e seu significado referencial. (relação forma/significante X significado).

Ainda uma outra concepção, de Labov e Halliday, vai pensar como determinada forma se relaciona com o contexto no qual aparece. Exemplo: “Fulano chegou de repente” - “de repente” funcionando, neste contexto, como um adjunto adverbial de modo. Em outras situações, “de repente” pode assumir outros status. Ex. “Temos que conversar com a Marília, mas de repente ela não está lá”. Este termo passa a ter outra função neste contexto - advérbio de dúvida.

Proposta dos funcionalistas: Desenvolver gramáticas funcionais da língua. Exemplo: Gramática de usos do português - Profa. Maria Helena de Moura Neves. A idéia não é simplesmente fazer um trabalho descritivo, no sentido de mostrar, por exemplo, as estratégias de relativização do português, estratégia padrão ou estigmatizada, pois não se trata apenas de evidenciar a existência desses fenômenos, mas é, efetivamente, construir um sistema de regras que explique porque, em determinados contextos, o sujeito utiliza certos termos/ expressões lingüísticas. Assim, um dos objetivos do funcionalismo é construir gramáticas, ou seja, instrumentalizar a língua de um ponto de vista funcional.



Outras observações:

  • A gramática funcional parte de três princípios: o princípio da adequação pragmática, psicológica e tipológica.

  •      O funcionalismo opera em três níveis: semântico, sintático e pragmático.


Fonte:

Anotações em aula.

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